Venho acompanhando com atenção as recentes
matérias na mídia local e nacional sobre a política de intimidação judicial
perpetrada pelo governador Marconi Perillo contra opositores. Nas últimas
semanas, diversos artigos publicados pelo Diário da Manhã trataram sobre este
tema. Assinada pelo jornalista Leandro Fortes e intitulada “O DITADOR MARCONI
PERILLO”, neste mês de agosto, a revista Carta Capital também publicou uma
matéria examinando esta questão. O semanário denuncia que, em apenas 3 anos, o
governador já abriu pelo menos 50 processos contra adversários. Inclusive, eu (um
desconhecido mortal) estou sendo vítima da “sanha judicial” do governador (parafraseando
FORTES) por ter compartilhado denúncias em minha página pessoal do Facebook.
Fiquei bastante surpreso ao ver o meu nome no hall dos perseguidos políticos do tucano, ao lado de jornalistas
ilustres, de políticos nacionalmente reconhecidos e até mesmo da mais famosa
enciclopédia virtual do planeta, a Wikipedia, interpelada judicialmente por
Perillo – o governador teria ficado insatisfeito com as informações comprometedoras
em sua biografia.
Não
discordo daquilo que parece ser consenso entre todos os artigos que li sobre o
assunto, isto é, que o governador estaria instrumentalizando a Justiça goiana
para escamotear as repercussões do Escândalo Cachoeira. Entretanto, uma hipótese
ainda não considerada nestas matérias merece um exame mais atento: a estratégia
de judicializar a opinião pública estaria atrelada à criminalização de
movimentos de resistência popular, caracterizando uma política de estado de exceção.
No início de abril de 2012, logo
após a revista CartaCapital divulgar em seu site a reportagem de capa “O
CRIME DOMINA GOIÁS”, sobre a relação do bicheiro Carlinhos Cachoeira com o
governador Marconi Perillo, todo o lote que fora distribuído em Goiânia
desapareceu misteriosamente das bancas de revistas. No entanto, já se foram os
dias em que antigos coronéis conseguiam evitar a distribuição de periódicos que
os denunciavam em seus currais eleitorais. Revoltados com o sequestro da
revista, estudantes de Goiânia baixaram a comprometedora reportagem do site da revista, e distribuíram
gratuitamente centenas de cópias nas ruas da cidade. A reação popular foi
imediata nas redes sociais da Internet e, dias depois, cerca de 5 mil
indignados tomaram as ruas para exigir o impeachment do governador. Em menos de
um mês, outros três protestos contra Perillo reuniram mais de 10 mil pessoas no
centro da capital. Assim, o movimento popular Fora Marconi surgiu a partir
deste embate entre o ‘neocoronelismo’ (tomo este termo emprestado do estimado
professor de Filosofia da UFG, Cristiano Novaes de Rezende) e o cyberativismo,
propiciado pela revolução tecnológica dos meios de comunicação de massa.
Com os ânimos acirrados por todo
o Estado, a paciência do governo parecia se esgotar. No primeiro dia de junho
de 2012, na ocasião em que o governador inaugurava a sede da Universidade
Estadual de Goiás (UEG), em Itumbiara, estudantes que decidiram protestar,
gritando palavras de ordem contra Perillo, foram violentamente espancados,
supostamente por seguranças e policiais militares. Após os exames realizados no
hospital local, os estudantes registraram a ocorrência na 2ª Delegacia de
Polícia da cidade.
Em junho deste ano, durante um
evento para a entrega de escrituras de lotes a famílias do bairro Morada Nova,
em Anápolis, estudantes e professores da UEG em greve aproveitaram a presença
do governador para exigir melhorias salariais e na estrutura da universidade.
Orientados a reprimir o protesto, policiais militares arrancaram cartazes das
mãos dos manifestantes, e prenderam um estudante que foi levado algemado para a
7ª DP de Anápolis. A acusação (pasmem!) foi de ele ter xingado o governador, o
que foi prontamente desmentido por testemunhas.
Em
seguida, foi a vez da tradicional Cidade de Goiás ser transformada num
verdadeiro palco de horrores pela tropa que fazia a segurança do governador. Na
ocasião, Perillo discursava na solenidade de abertura oficial do FICA –
Festival Internacional de Cinema Ambiental (FICA), realizada no Palácio
Conde dos Arcos. Conforme diversos relatos de moradores da cidade que
testemunharam o ocorrido, policiais militares agiram com extrema truculência e
força desproporcional contra dezenas de manifestantes que protestavam
pacificamente contra o governador nas imediações do Palácio. Vários ficaram
feridos e pelo menos oito pessoas, entre professores e estudantes, foram algemadas
e conduzidas para a delegacia em porta-malas de viaturas da PM. Advogados que tentavam
prestar apoio jurídico aos detidos relataram que as autoridades policiais violaram
as suas prerrogativas na delegacia de polícia. Diante da gravidade dos fatos, a Comissão
de Segurança Pública e Política Criminal, da OAB-GO, foi acionada e passou
a acompanhar a denúncia. De acordo com o presidente desta comissão,
Dr. Rodrigo Lustosa Victor, “o caso em questão será levado a
"julgamento" na próxima reunião ordinária da CSP, marcada para o dia
16 de setembro próximo. Entretanto, em antecipação às possíveis medidas,
determinei a expedição de ofícios aos órgãos correcionais, para a apuração das
respectivas responsabilidades.”
Poucos
dias depois, mais uma vez em Anápolis, no momento que Perillo fazia um discurso
sobre o Projeto Governo Itinerante, manifestantes que ousaram levantar cartazes
e gritar palavras de ordem contra o governador foram novamente reprimidos de
forma violenta. Desta vez, um estudante universitário teve a clavícula quebrada
após ser perseguido por agentes à paisana. Socorrido por oficiais do corpo de
bombeiros, o jovem foi carregado numa maca e levado ao hospital de urgências.
É
importante salientar que seria impossível listar aqui neste pequeno texto os
inúmeros casos de truculência do Estado de Goiás contra manifestantes que se
opõem aos desmandos desta administração. Mas com o intuito de investigar a
hipótese de que teriam sido implantadas em Goiás a indústria do medo e uma
política de estado de exceção, selecionamos as ocorrências acima, porque nela identificamos
importantes elementos em comum, quais sejam: a presença do governador Marconi
Perillo; o excesso de força e o abuso de autoridade para reprimir protestos
pacíficos; e as detenções, humilhações e agressões físicas contra jovens, violentados
em seu direito constitucional de livre manifestação.
Mas
quais seriam os reais motivos para o Estado tratar estudantes como se fossem
marginais? Geralmente em socorro ao chefe, o exército marconista de
comissionados responde esta questão entoando o mantra ad hominem: “estes estudantes são moleques arruaceiros, pagos por
partidos da oposição para humilhar o governador...” e assim por diante. Será?
Em suma, por um lado,
ao confundir dano político com dano moral, ou ainda o público com o privado, o
governador parece se valer de provável subserviência de membros do judiciário
goiano para ameaçar opositores. Por outro lado, o aparelho repressor do Estado
vem sendo sistematicamente utilizado para massacrar os estudantes organizados
em movimentos de resistência popular. Esta situação é muito alarmante, na
medida em que o estado de exceção (cuja existência pode ser constatada quando o
povo passa a temer seus governantes) degenera as instituições democráticas e
atropela os princípios de igualdade e liberdade, que dão sustentação ao Estado
Democrático de Direito.
Conscientes
de que o medo é a arma mais eficaz dos governos totalitários contra a liberdade
do povo, nos manteremos unidos e fortes. Logo, Marconi Perillo engana-se, caso
subestime a resiliência dos goianos.
No
próximo sábado, dia 7 de setembro, às 8:00 h, estudantes secundaristas e
universitários, professores, funcionários públicos, representantes de
movimentos sociais e a população em geral se concentrará no coreto da Praça
Cívica para a realização de um “desfile cívico”. Todos os políticos
profissionais de Goiás devem ficar atentos à resposta popular que virá das
ruas.
Caius Brandão
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