Alex Neder, Advogado. |
Entre os
corriqueiros escândalos de corrupção que tomam conta dos veículos de
comunicação no país, a onda do momento é a operação Lava jato, que acabou por
derrubar uma figura de proa do esquema de arrepiar cabelos, envolvendo
corrupção de grosso calibre e lavagem de dinheiro. Coisa de bilhões de dólares,
da nossa amada e idolatrada Petrobras, envolvendo 32 deputados, senadores,
possíveis ex-governadores e ministros de Estado.
A
operação Lava jato terminaria em grandes volumes de processo, com ferrenha
disputa jurídica sobre a licitude das provas e coisas do gênero , não fosse o
ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, ter feito acordo
de “delação premiada” com a Procuradoria da Republica, com a anuência do Supremo Tribunal Federal,
foro privilegiado das figuras envolvidas nessa roubalheira de fazer tremer os
alicerces da República.
A delação premiada,
aprimorada pela lei 12.850/2013, conhecida como lei de combate a organização
criminosa, prevê ao colaborador desde a redução da pena em até 2/3 (dois terços) e/ou o perdão
judicial, dependendo da colaboração e podendo o Ministério Público deixar,
inclusive, de denunciar o colaborador.
Como diziam
os chineses, “o exemplo vale mais do que mil palavras”. O ex- diretor da
Petrobras, Paulo Roberto Costa, resolveu
utilizar-se da delação premiada porque viu o fim do operador do “mensalão”,
Marcos Valério, que resolveu confiar no decantado poder político de seus
comparsas e acabou contemplado com quase
40 anos de prisão, pena aplicada pela mais alta corte de justiça do
País, o Supremo Tribunal Federal.
O efeito foi
tão devastador que Costa, além de ser delator, apontando boa parte de
integrantes do Congresso Nacional e
empreiteiras como envolvidos, devolveu candidamente a bagatela de U$23 milhões
de dólares recebidos de uma empreiteira para facilitar contratos com a
Petrobras. Depositado na Suíça, o dinheiro já se encontra bloqueado e com a sua
repatriação autorizada por Costa, o que evita acionar a cooperação jurídica
internacional, uma burocracia sem fim.
Os
depoimentos de Costa, gravados e filmados, foram criptografados e enviados à Procuradoria
Geral da República e ao Ministro Teori Zavascki. A criptografia é para
segurança do conteúdo e, também, para não assustar ninguém de noite...
Na mesma
esteira, o doleiro Alberto Youssef,
apontado como parceiro e sócio de Costa, resolveu seguir o exemplo do
companheiro. Dispensou advogados que eram contra, arrumou um que é a favor e já
prepara os termos da sua delação premiada, porque também não quer ser outro
Marcos Valério.
O que me chama
atenção diante desse quadro que causou e causa comoção e indignação social, é o
fato dos depoimentos de Costa estarem trancados
a sete chaves, enquanto nós estamos na véspera de um pleito eleitoral nacional,
em que vamos renovar o nosso Parlamento escolher nosso Presidente.
Pelas poucas
informações que vazaram, estariam envolvidos no esquema criminoso 32 deputados
federais e senadores. Boa parte dessas criaturas está disputando a reeleição, a
maioria para manter o mandato parlamentar, que tem sido o refugio de infratores
que dilapidam a coisa publica, em detrimento da saúde, da educação e da
segurança publica, dentre outros estragos que causam a nação, matando sonhos e
pessoas todos os dias.
Particularmente,
sou árduo e ferrenho defensor da plena liberdade
de expressão e informação e penso que o povo brasileiro tem o direito de
conhecer o conteúdo dos depoimentos do Sr. Costa e fazer suas próprias
avaliações para não cometer o erro de eleger corruptos para integrar o Congresso Nacional, obrigando-nos a
suportar por 4 anos os deputados reeleitos, o que seria um escárnio.
Embora a lei crie restrições à divulgação dos
depoimentos do delator, mantendo-o sob sigilo até o oferecimento da denúncia,
penso que o interesse público, nesse caso, sobreleva em muito a restrição
legal.
Importante ressaltar que
defendo essa tese como cidadão e eleitor e me incluo entre os que não gostariam
de, enganados, eleger um individuo envolvido em um esquema como esse.
Alguém já disse que devemos nos lembrar
dos erros do passado para não repeti-los no futuro. Somente ficamos sabendo do
conteúdo da operação Vegas quando estourou a operação Monte Carlo. Fatos
ficaram encobertos e que, se conhecido por todos, poderiam ter mudado o curso
de muitos acontecimentos.
Evidente que os
depoimentos do Sr. Costa não podem ser aceitos como verdade absoluta e todos
que forem citados merecem o amplo direito de defesa, mas o cidadão eleitor tem
um direito público relevante de conhecer todos os fatos que envolvem os
congressistas e autoridades públicas antes das eleições. Caso contrário, o
estrago poderá aumentar em muito o que já foi feito na Petrobras e, depois do
pleito eleitoral, só poderemos lamentar e dizer “infelizmente” aos ladrões a
república!
*Alex Neder é Advogado Criminalista, Membro do Conselho de Transparência Pública e Combate a Corrupção do Estado de Goiás e Membro da Comissão de Acompanhamento Forense da OAB-GO (CAF) Triênio 2013-2015.
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