45 anos depois da edição do AI-5, ato institucional que decretava o estado de exceção no Brasil e que, no seu inciso III do Artigo 5º, proibia o direito de manifestação sobre assuntos de natureza política, assistimos estarrecidos, em plena vigência do estado democrático de direito garantido pela Constituição Cidadã de 1988, a prisão de três jovens estudantes da UFG, acusados de liderarem as manifestações recentes em Goiânia contra o aumento da passagem do transporte coletivo e a má prestação do serviço público. O delegado que comandou as investigações que culminaram com a prisão dos jovens, disse que eles são suspeitos de integrarem uma organização que tem o intuito de pregar a desordem e promover atos de vandalismo. Familiares e amigos dos detidos negam. Segundo outros estudantes, amigos dos rapazes presos, a prisão é absolutamente arbitrária e é fruto de pressão política por parte do governo e dos empresários do setor de transporte coletivo da região metropolitana. A verdade é que tudo soa muito estranho e muito cômodo para a turma que comanda o transporte coletivo em Goiânia e para aqueles que se locupletam da exploração da atividade. Desde junho do ano passado, quando centena de milhares de pessoas foram às ruas protestar contra a corrupção e os políticos do Brasil, há um nítido e implacável desejo de se criminalizar os movimentos sociais. A queima e depredação de ônibus em Goiânia, por exemplo, ainda que seja uma ação que mereça repreensão e pouco inteligente do ponto de vista de resultados práticos, é protagonizada, em sua grande maioria, por pessoas do povo, ao arrepio de qualquer comando, planejamento ou inteligência. A prisão dos jovens estudantes e o indiciamento dos mesmos nos diversos crimes pretendidos pela Polícia, é uma forma de inibir novas manifestações legítimas e asseguradas pela Constituição Federal. Infelizmente, a Polícia Civil de Goiás, tão menosprezada pelo atual governo, presta-se a um papel de polícia de repressão que serve tão somente aos interesses políticos, nocivos ao povo de Goiânia e região. Com a prisão desses estudantes, estamos diante de um grave e lamentável episódio que, caso não seja repensado e discutido pela sociedade civil organizada, poderá nos remeter ao nebuloso estado de chumbo da ditadura militar. Precisamos, urgentemente, discutirmos as causas das manifestações que se repetem diariamente Brasil afora. Criminalizar as consequências dos movimentos sociais é tudo que os tiranos querem.
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