sábado, 21 de fevereiro de 2015

O vândalo que depreda nas ruas é apenas consequência do vândalo que opera no palácio.

De novo a história se repete. Em manifestação contra o aumento abusivo das passagens de ônibus na capital e região metropolitana, um grupo de aproximadamente 400 pessoas, segundo a PM/GO, composto principalmente de estudantes, fizeram ontem, 20/02, uma manifestação contra o que chamaram de abuso. O custo da passagem, que era de R$ 2,80, passou para R$ 3,30, um aumento de quase 18%. A qualidade dos serviços, entretanto, continua a mesma. A Polícia Militar, que já sabia da manifestação, haja vista que a mesma foi divulgada nas redes sociais, armou uma verdadeira operação de guerra para conter os mais afoitos. E não deu outra: cenas de violência marcaram a manifestação. Obviamente, ninguém em sã consciência defende o vandalismo, na acepção literal da palavra, e quem o pratica, depredando o patrimônio público ou privado, deve responder conforme prevê a legislação pátria. Entretanto, temos que ter a hombridade de buscarmos as causas e cobrar responsabilidades daqueles que dão azo a esse vandalismo que estoura nas ruas toda vez que o cidadão é vilipendiado pelo poder público. O Transporte público em Goiânia e região metropolitana sempre esteve marcado por notícias de monopólio, cartel, licitações fraudulentas e o poder público nunca foi capaz de regular o serviço e exigir uma boa prestação aos usuários. O poder econômico sempre prevaleceu sobre os interesses da população. Nesse caso específico (aumento da passagem de R$ 2,80 para R$ 3,30), o vandalismo palaciano atende pelo nome de Marconi Perillo, governador de Goiás no exercício do quarto mandato. Em abril do ano passado, quando ensaiava-se lançar candidato à releição, Perillo assinou com as empresas que operam o transporte coletivo na região metropolitana de Goiânia, um acordo onde se comprometia a franquear 50% da gratuidade do sistema, que são concedidas a estudantes, idosos, deficientes físicos e policiais fardados. O custo mensal desses 50% foi calculado em R$ 4,5 milhões e o Governo de Goiás deveria começar a pagar às empresas já em maio de 2014. Passados, portanto, nove meses, nenhum centavo entrou nos cofres das empresas de ônibus. A dívida já chega a mais de R$ 40 milhões. Depois de vencer as eleições, e não tendo como esconder a calamitosa situação financeira do estado, Marconi diz que não vai pagar sua parte na gratuidade. As empresas, que alegam acumular prejuízos por conta desse descumprimento de obrigação do governo estadual, foram autorizadas a promover o aumento nas passagens para o valor que contemplasse a gratuidade. Ou seja: os usuários que pagam a passagem estão franqueando a gratuidade que o senhor Governador, em campanha, prometeu assumir. É esse tipo de vandalismo palaciano que dá causa ao vandalismo nas ruas. Antes do vândalo que vira e apedreja carros da imprensa, existe um vândalo no Palácio, posando de senhor da razão, induzindo o povo ao erro e distribuindo sofismas. No anonimato dos gabinetes, entretanto, esses vândalos palacianos riem e brindam a cada notícia de que um vândalo na rua foi preso pela polícia. Nada beneficia mais um vândalo palaciano do que a criminalização das manifestações. Infelizmente, o cidadão, incauto, não percebe que discutir, se espantar e repudiar apenas o vândalo comum acaba privilegiando o vândalo do palácio. Temos que ter coragem de punir as consequências sem contudo inocentar as causas. 

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