Essa questão dos médicos cubanos
perdeu o viés científico estabelecido pelo revalida e tornou-se uma briga
ideológica. É justamente aí que está o perigo, afinal, tanto esquerda
quanto direita, quando estabelecem suas contaminações a temas que deveriam ser
discutidos dentro de parâmetros científicos, geram estigmas e formam preconceitos,
escancarando através da ausência de ética e princípios norteadores do respeito,
o que as elites realmente pensam e como agem quando contrariadas.
Defendi,
até o último momento, a utilização dos instrumentos existentes para que
pudessemos conhecer a capacidade técnica dos profissionais que estão chegando,
entretanto, esse governo, como todos que por esse país passaram, pouco se
importa com o contexto científico, utilizando medidas superficiais a toque de
caixa, como se as mesmas fossem a grande solução para a saúde pública no Brasil.
Agora que o governo em sua decisão arriscada trouxe esses profissionais em
medicina da família, cabe a cada um de nós acompanhar os resultados e as
consequências, não esperando nem o bem, muito menos o mal, pois, para a ciência,
esses parâmetros pouco importam, sendo o imprescindível, a aplicabilidade da
técnica e sua eficácia em relação as demandas existentes.
A questão dos médicos estrangeiros esbarra em
questões de incompatibilidade quanto a grade curricular exigida pelo próprio
MEC, bem como, a carga horária , além, é claro, de questões demasiadamente
obscuras que vão dos processos de formação dos médicos, até mesmo, a critérios
adotados pelos governos dos países de origem
para o envio de tais profissionais ao Brasil. Que são especialistas em medicina da família, isso não resta dúvida,
mas, a qualidade profissional, a técnica e a experiência clínica são
imprescindíveis para uma atuação eficaz. Essa sim, é a questão de elevada complexidade, não essa
fobia ideológica que insiste ainda em contaminar a opinião pública, afinal, a
direita histérica e a esquerda "neurastênica", em suas ruminações,
acabam gerando o mesmo conteúdo vazio e desnecessário.
Cabe a cada um de nós cobrar e fiscalizar a
atuação desses profissionais em medicina que por aqui chegaram, afinal, um
outro aspecto preocupante, também é o baixo salário que receberão, pois, seus
pagamentos estão subordinados a bondade do governo dos irmãos Castro que
definirão quanto suas famílias merecem ganhar; outro grande erro do governo
brasileiro frente ao acordo firmado com a OPAS. Sabemos muito bem que um
profissional mal remunerado sempre perde muito em eficácia e estímulo, imagine
um médico que mal sabe quanto receberá ao final do mês.
Tal projeto, mesmo que necessário,
em virtude da defasagem de profissionais no interior do Brasil é ao mesmo tempo
arbitrário, desconsiderando os critérios de avaliação do conhecimento para o
exercício da medicina, que deveria ser uma exigência a todos os profissionais
médicos, estrangeiros e brasileiros, há muito a ser aprimorado, no entanto, há
muito a ser observado pelos que serão pacientes desses profissionais,
cabendo-lhes a responsabilidade em relatar, e se necessário for, denunciar o
que possa não estar indo tão bem
assim, evitando as práticas e condutas
inadequadas que tanto vemos aqui no Brasil.
Evitando a leviandade, bem
como, a contaminação ideológica, é
bom que nos lembremos da qualificação
dos médicos recém-formados no Brasil, entre 2005 a 2011, quando foram aplicadas
avaliações que mensurariam a aptidão para o exercício profissional. No site do CREMESP, especificamente, http://www.cremesp.org.br/?siteAcao=NoticiasC&id=2570, apontam que, nesse perído, foram avaliados
4.821 profissionais em medicina, sendo 46,7% considerados inaptos ao exercício
profissional. Então perguntamos: Onde estao esses profissionais reprovados pela
avaliação do CREMESP? Voltaram para as academias para aperfeiçoarem-se?
Não! Estão por aí, espalhados sabe-se lá
por onde, certamente, boa parte não está nos rincões do nosso país, isso é
fato.
Não há como discutir propostas de
saúde contaminadas “com achismos” , nem mesmo, com a ilusória pretensão
ideológica. É necessário cientificidade
e bom-senso para que possamos definir e ampliar o debate tão necessário para a
consolidação de um programa de saúde pública, entretanto, sempre adequadas a
critérios técnicos, sem é claro, atroplear a própria legislação, mas,
adequando-se à mesma. Penso, em relação ao
Revalida, que não somente estrangeiros deveriam fazê-lo, mas, todos os
profissionais de saúde deveriam ser submetidos ao mesmo, afinal, se o
conhecimento é a referencia para a atuação profissional, e se as academias de
medicina são tão eficazes, os que estiverem aptos serão aprovados, caso
contrário, aperfeiçoam-se e voltam a tentar numa próxima ocasião. O que não dá
é submetermos a população a mãos despreparadas
pautadas por condutas pouco eficazes.
Marcus Antonio Brito de Fleury
Junior é psicólogo e coordenador do Ateliê de Inteligência
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